As carências de micronutrientes são matéria de discussão na comunidade científica. Os estudos indicam claramente que mesmo uma alimentação escrupulosamente equilibrada tem insuficiências, pelo menos, no que toca a micronutrientes específicos como o selénio. Na Inglaterra, por exemplo, o aporte de selénio diminuiu em mais de 50% nas últimas duas ou três décadas.
Mesmo uma alimentação rica em peixe e marisco, que são duas fontes alimentares de elevado teor de selénio, não forneceu selénio suficiente para desencadear o efeito protector que um grupo de cientistas dinamarqueses esperava observar. Neste estudo de 2015, realizado em colaboração com a Sociedade Dinamarquesa de Oncologia, os investigadores pediram a um grupo de homens e mulheres que consumissem 200 gramas de marisco por dia, durante seis meses. O objectivo consistia em avaliar se a dieta prescrita conseguia saturar a Selenoproteína P (SelP), responsável pelo transporte de selénio para todas as células. Seria expectável que esta dieta, garantido um aporte diário de 100 microgramas de selénio, permitisse a saturação da Selenoproteína P, contudo tal não se verificou.
Grandes diferenças no aporte de selénio
A alimentação europeia típica fornece cerca de 40 microgramas de selénio por dia, menos de metade da quantidade considerada suficiente pelos principais especialistas. Comparativamente, os americanos obtêm mais de 100 microgramas por dia, e na Venezuela o consumo médio é de 200-350 microgramas por dia. A grande diferença no aporte de selénio pode explicar-se pelo facto de os níveis de selénio no solo agrícola de certas regiões do mundo serem extremamente elevados.
Obrigatoriedade de enriquecimento com selénio dos fertilizantes
O solo agrícola de muitos países europeus é relativamente pobre em selénio. Até à data, a Finlândia foi o único país a agir. Em finais da década de 1970, os investigadores estavam preocupados com a baixa taxa de selénio da população finlandesa. Consequentemente, em 1984, as autoridades aprovaram uma lei que obrigava ao enriquecimento de todos os fertilizantes com selénio, como forma de aumentar os níveis e selénio nas colheitas. Entretanto, a quantidade de selénio adicionado aos fertilizantes tem sido ajustada algumas vezes, a última das quais em 2007.
Um caso de sucesso – mesmo 30 anos depois
Tudo indica que o projecto de selénio finlandês resultou perfeitamente. Na conferência internacional sobre selénio, em Estocolmo, em Agosto de 2017, um reconhecido investigador finlandês apresentou factos e números dos mais de 30 anos da vigência da lei. O aporte de selénio na Finlândia mantém-se adequadamente elevado, pelo que não há intenção de abandonar o projecto ou de diminuir a quantidade de selénio adicionado ao solo.
Défice de selénio na agricultura biológica
Nos últimos anos, os especialistas têm salientado uma falha da agricultura biológica. A maior parte das pessoas supõe automaticamente que as colheitas biológicas são mais saudáveis que as tradicionais, mas nem sempre é assim. Se o solo agrícola for pobre em selénio, as colheitas desse mesmo solo serão igualmente pobres, a menos que se adicione selénio ao solo (como na Finlândia).
Todavia, como a agricultura biológica não permite adicionar substâncias que não sejam provenientes do solo, o ciclo de défice de selénio persiste nas colheitas biológicas e na carne e lacticínios de animais que se alimentam dessas colheitas. É um ambiente fechado, para o melhor e para o pior.
Os consumidores com preocupações de saúde certamente beneficiam com o consumo de alimentos biológicos, mas talvez valha a pena ponderar a toma diária de um suplemento de selénio.